lO uso excessivo de dispositivos eletrônicos tem gerado preocupações sobre o impacto no desenvolvimento das crianças, especialmente no que se refere ao desenvolvimento psicomotor. A psicomotricidade, que abrange a interação entre o corpo e a mente por meio do movimento, pode ser afetada negativamente por essa exposição excessiva. A seguir, exploramos os principais efeitos, com base nas ideias de autores relevantes na área de psicomotricidade.
Segundo Vitor da Fonseca, o desenvolvimento psicomotor depende de experiências corporais ativas. O uso prolongado de dispositivos eletrônicos, como celulares, tablets e videogames, reduz significativamente as atividades físicas das crianças, como correr, saltar e brincar ao ar livre, fundamentais para o aprimoramento da coordenação motora ampla e fina. A falta de movimento impacta diretamente a integração do corpo com a cognição, prejudicando o desenvolvimento motor básico.
A coordenação motora, uma das principais competências desenvolvidas na infância, está intimamente relacionada ao movimento físico. Jean Le Boulch, outro importante autor da psicomotricidade, argumenta que as habilidades motoras são refinadas através de interações corporais no espaço, como desenhar, correr ou manipular objetos. O uso de eletrônicos, por sua vez, exige movimentos repetitivos limitados, como clicar ou deslizar a tela, o que não proporciona o mesmo nível de estímulo para o desenvolvimento motor diversificado.
O desenvolvimento da lateralidade (a capacidade de diferenciar e utilizar os dois lados do corpo) e a percepção espacial são essenciais para o equilíbrio e a coordenação motora. A psicomotricidade enfatiza que essas habilidades são adquiridas de forma prática e dinâmica. De acordo com autores como Claudine Schmitz, o tempo excessivo em frente às telas pode comprometer a percepção espacial da criança, uma vez que a interação com os dispositivos eletrônicos limita a exploração do ambiente físico, restringindo o desenvolvimento dessas competências.
A interação com os dispositivos eletrônicos tende a ser um estímulo predominantemente visual e auditivo. Isso pode levar à hipossensibilidade corporal ou à falta de estímulos táteis e proprioceptivos (relacionados à percepção do corpo no espaço). Como Jean Piaget destaca, o desenvolvimento cognitivo está profundamente ligado à exploração sensorial do mundo ao redor. A falta de atividades que envolvam os sentidos de toque, movimento e equilíbrio pode atrasar a maturação cognitiva e emocional da criança.
O sedentarismo decorrente do uso excessivo de eletrônicos está diretamente relacionado a problemas de saúde, como obesidade infantil e distúrbios posturais. A psicomotricidade defende a importância do movimento contínuo para o bom funcionamento do corpo e da mente. Le Boulch afirma que a inatividade física pode comprometer a saúde mental das crianças, aumentando os níveis de ansiedade, estresse e até mesmo depressão.
A psicomotricidade também considera a importância do movimento para a expressão e regulação emocional. O movimento, conforme Fonseca e Le Boulch, é uma forma natural de a criança processar e expressar suas emoções. O uso excessivo de eletrônicos pode diminuir as oportunidades de interação social e de expressão emocional autêntica, limitando a capacidade da criança de lidar com suas emoções de maneira saudável. Além disso, atividades como o jogo livre, que envolvem contato físico e social, são substituídas por experiências virtuais isoladas.
O uso de eletrônicos também interfere no ritmo circadiano das crianças, prejudicando a qualidade do sono. A exposição à luz azul das telas pode alterar os padrões de sono e, consequentemente, o desenvolvimento psicomotor. O sono adequado é essencial para a recuperação física e mental das crianças, e a privação de sono pode afetar diretamente a concentração, a coordenação motora e o aprendizado.
A interação social é essencial para o desenvolvimento emocional e cognitivo. A psicomotricidade destaca a importância das interações face a face para o aprendizado de comportamentos sociais e habilidades de comunicação não verbal. O uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode limitar as interações presenciais, prejudicando a capacidade da criança de ler e responder adequadamente a sinais sociais, como expressões faciais, gestos e posturas corporais.
De acordo com Piaget e outros psicólogos do desenvolvimento, a atenção e a memória estão intimamente ligadas ao movimento físico e à exploração ativa do ambiente. O uso excessivo de telas pode contribuir para uma redução na capacidade de atenção sustentada, pois a criança se acostuma a estímulos rápidos e fragmentados, típicos das mídias digitais. Isso pode levar a dificuldades de concentração e memorização em atividades que exigem maior envolvimento cognitivo.
Embora os dispositivos eletrônicos possam trazer benefícios, como recursos educacionais, o uso excessivo pode prejudicar o desenvolvimento psicomotor da criança. Os autores da psicomotricidade, como Vitor da Fonseca e Jean Le Boulch, ressaltam a importância de uma abordagem equilibrada, onde o uso da tecnologia seja combinado com atividades físicas, interações sociais e experiências sensoriais diversificadas. Para um desenvolvimento saudável, é fundamental que a criança tenha tempo para explorar seu corpo, se mover livremente e se engajar em brincadeiras que estimulem suas habilidades cognitivas, emocionais e motoras de forma integrada.
Este texto destaca os principais impactos negativos do uso excessivo de eletrônicos no desenvolvimento psicomotor infantil, com base nas teorias de autores como Vitor da Fonseca, Jean Le Boulch e Piaget. Ele enfoca a importância de um equilíbrio entre as interações digitais e as experiências físicas e sociais para um desenvolvimento infantil saudável.